terça-feira, 15 de junho de 2010

Devaneios Enfermos.

Ele acordava.
O garoto sentia-se na pele de seu avô. Deitado, em uma cama, sem forças. Não conseguia pronunciar uma palavra, a garganta dilacerada o impedia. Não conseguia tossir, o peito comprimido e dolorido não deixava. Não conseguia pensar, o cérebro estava sobrecarregado, e não sentia, pois o coração deste havia morrido.
Alí, ele admirava o tom púrpura do lençol de sua cama, que contrastava com o azul de seu travesseiro. "Lindas cores para se usar quando se está quase morto" - pensou o garoto. Ironizava, e tentava buscar um pouco de humor aonde não havia. Afinal, aquele era o garoto, apesar de tudo, sorria.
Mas, aquela era sua cama, seu quarto, seu mundo. Não havia ninguém em casa, estava só. Então, ele delicadamente retirou o sorriso de sua face, e chorou, pela primeira vez em meses.
Agarrava o peito por cima do pijama, nunca, em nenhum baixo de sua vida se sentiu tão... só.
Ele o amava, sim, o amava. O garoto sabia muito bem das condições contratuais quando optou por ama-lo. E agora, está apenas lidando com as pequenas cláusulas da página 2/280. Doía, tudo. A falta de reciprocidade, a falta de conversas, a falta de tudo. Doía a distância, doía o modo com o qual havia pasado a última semana, doía o modo com o qual ele pensava sobre as coisas. Doía ele querer, e não ter.
Doía a falta de amizade das pessoas em sua volta. Doía a forma com que as pessoas o tratavam, doía a forma com que a família lhe via, doía a forma com a qual ele via as coisas, doía a solidão.
Sim, ele estava só, sem família, sem amigos, amores, caprichos e valores. Na realidade, a solidão estendeu a mão a ele, e eles passaram a conviver. Assim ela teria ele como interminável companheira, e ele, teria ela como prova para se lembrar que ele está vivo, e que teve um passado. Passado equilibrado, no qual ele podia fazer de tudo e ser quem quiser, pisar em quem bem entendia, conquistar prazeres e luxos únicos. Hoje, ele precisa aprender o valor de humildade, e conquistar o sentido de dignidade.
Isto é, se os remédios não o matarem antes.

3 comentários:

Kitsune Kmiii disse...

Até remédios matam se não são tomados na dose correta.
Triste ver um filhote desgarrado de mim, sozinho, sofrendo.
Mais triste ainda saber que eu não tenho tido tempo para perguntar como vai você.
Entretanto, é muito mais triste saber que estou cansada de te ouvir reclamar das mesmas coisas. Família, amigos e amores. Dissabores.
Um conselho de quem já desceu ao primeiro grau do inferno: mate esta criança e eu lhe darei à luz novamente. E você terá uma vida nova, onde poderá ser o que quiser e como quiser.

Só não se esqueça de algumas coisas: quem vive de passado é museu; ame seus pais de verdade porque você nunca saberá quando os verá pela ultima vez; entenda que os amigos mudam e se afastam, mas não significa que eles deixaram de ser amigos ou de se amarem; se for morre, escolha um dia de sol; e quando você voltar, lembre-se que eu te amo muito.

Anônimo disse...

Olá, obrigado pela visita e comentário, fico muito contente em receber visitantes novos, e claro, espero que voltem. Gostei do texto, uma boa dose de realidade, as vezes precisamos, não das doses, mas de sermos lembrados. Abraços e parabéns pelo blog.

Letícia disse...

Não importa como nem onde, eu to com você. Hoje e sempre.

Mas a solidão dói, machuca. E você olha em volta e não vê nada, nem ninguém. Acredite, eu te entendo!