terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O banco em frente a vitrine.

O garoto sentia calafrios. Sessões de cinema sempre acabavam com o seu extinto de temperatura. Percebia-se que chovia, mais um dia chuvoso lambendo o céu que agora não era mais cinza, naquele horário, se tingia de um negro azulado por completo.
Tinha um andar duro, estava fortemente incomodado havia semanas. Como iria fazer aquilo? O que iria dizer? e o principal: Qual seria a sua reação?

Estavam de mãos dadas, conversando as trivialidades que o garoto tanto gostava. Sentia-se feliz apenas em estar alí, segurando aos mãos morenas e quentes dele, mas não deixava transparecer, não sorria, apenas concordava com a cabeça e dizia algo, monossilabicamente. Sua preocupação ultrapassava os níveis críticos permitidos, ele não sabia se iria aguentar.

Sentaram-se, sorriam. Ouviam coisas que não ouviam a tempos. comiam, calados. Um pergunta ao outro: O que você tem?
O outro responde: Logo saberá, acabe de comer.
Enquanto bebericava o suco, olhava pacificamente o outro comer. fazendo qualquer coisa, ainda mantinha a expressão serena e um certo ar de mistério. Não sabia de onde isso vinha, apenas sabia que o encantava. Olhava, se perdia no fluxo do tempo, sendo arremessado bruscamente em uma cadeira de plástico quando ele dizia: Pára de me olhar assim!

Não sei o que dizem sobre o amor, e o garoto acaba de concluir que tampouco quer saber. Quer apenas aproveitar o momento, aproveitar a quem lhe permite amar. a quem lhe permite ser amado. O garoto quer que isso dure, dure muito. Ele reza todos os dias ao Criador, a Deus, Seja lá quem, ou o que for. Reza pedindo para que nunca acabe, para que tudo dê certo. Ele ama, de um jeito tão intenso e verdadeiro, que tem a certeza que não sentirá isso por mais ninguém.

Andavam, ainda conversando, mas mais animados. Sentaram-se em um banco. O garoto suava frio, tremia. Tinha movimentos mecânicos. Abriu sua boca uma ou duas vezes, não sairam palavras, apenas o vazio. Na terceira tentativa, ele disse. Disse o que sentiu naquela semana, como se sentia agora, como estava com... medo. Disse como o amava. Se sentiu mais seguro. Tirou do bolso uma caixa preta, puída, um pouco suja, talvez.

Ele abriu a caixa, fitou uma das faces do grande anel em que alí estavam. O garoto ficou apreensivo. Decepcionou-se ao ver a face Dele se mesclar em surpresa e decepção. Ouviu tudo o que pediu pra não ouvir, achava-se preparado, mas não estava. Cada palavra surtia o efeito de uma facada em seu peito, e ele conseguia apenas se perguntar: Porque não? Não é o bastante? Não fiz certo dessa vez? O que falta em mim?

Em um segundo, que mais pareceu um dia para o garoto, ele teve uma certeza, de que não importa o quanto ele o ame, ele simplesmente não corresponde da mesma maneira. Poderá corresponder? tanto sim, como não. Ele está seguindo em frente para descobrir a resposta. Não importa o que ele faça, não surte efeito. Ele se sente impotente, de mãos vazias e atadas, apenas... esperando, como sempre fez.

Naquele momento, o último fio verde de espectativa, esperança e visão de futuro que o garoto tinha, se foi. Se foi tão rápido e repentino como ele apareceu em sua vida, e fez dela um furacão que ele tanto gosta.
Neste momento, a última lágrima que cai sobre o cristal líquido traz uma mensagem, de que ele ainda espera, e que ele, não sabe de onde, ainda tem um fio de esperança, e que por aqui ele encerra todo o seu teatro de marionetes da Melancolia.

Ele apenas viverá, como se nada tivesse acontecido, junto Dele, esperando pelo dia que tanto anceia.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Três gotas de suor.

Estava quente, muito quente.
O garoto dormia. Sonhava com seus pais, sonhava com seus amigos, sonhava com seu amor. Um completo conjunto em harmonia era simplesmente tudo o que o garoto mais dava valor.
O suor era inevitável, o lugar era quente, abafado. Porta fechada a chave, janela idem. O Fraco ventilador acima de sua cabeça soprava inutilmente, um vento quente, viciado.
Ele abre os olhos, se pergunta: Que horas são? O celular tá em cima da mesa... não vou pegar.


Olha para o lado, a visão é monumental.
Dizem que o amor, de um certo modo, faz as pessoas ficarem burras, cegas, tapadas e completamente retardadas, exagerando na beleza alheia. O garoto amava, mas não exagerava quando o descrevia. Na realidade, ele sempre dizia que era clichê, mas não havia como comparar tamanha sutil beleza.
Ele estava de costas, com um certo brilho devido ao suor. Os cabelos macios despenteados, bagunçados, numa linda desordem casual. A pele morena adquiria um certo brilho a meia luz das frestas da janela. O corpo mantinha suas formas suaves, ao mesmo tempo majestosas. Ele se vira, ainda dormindo, o rosto sereno, numa expressão de profunda calma. Ele devia estar em devaneios, em seu mundo particular de sonhos, aonde somos realmente livres.

O garoto chegou perto, afagou-lhe o rosto. Ele abriu os olhos, sonolento, desferiu um sorriso arrebatador, dizendo: Bom dia! eu dormi demais?
O garoto ainda sim, conseguia ficar hipnotizado com aquilo. Respondeu que sim, se aproximou e se abraçaram, afagaram-se. E do mesmo modo sutil em que acordaram, voltaram a dormir.
Voltaram a seu mundo de liberdade, aonde não havia quem lhes dissesse o que fazer, ou que eram 10:30 e dava tempo de mais uma. Apenas curtiram o momento.

Mas, ainda assim, ainda estava quente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O vácuo dentro de um vaso.

A criança acorda. Se recorda de estar em seu pijama listrado, em sua confortavel e quente cama, em seu quarto, abarrotado de amor e ursos de pelúcia.
Ele se levanta, e sente o contraste de seus pequenos e brancos pés sobre o chão frio. agarra um ursinho e anda em direção ao nada.
Ele olha para a esquerda, vê uma parede descascada, um quadro com uma foto amarelada, torto, uma rachadura. Olha para a direita, um sofá mofado, almofadas puídas, uma televisão.
Ele continua a andar e procurar, procurar. Mas, procurar quem?
Após andar a casa inteira, olhar quarto por quarto, canto por canto, ele se dá conta de que estava sozinho.
Eis que uma mão pousa sobre seu ombro, ele se da conta que aquela é a solidão.
O garoto não chora, não fala, não se move. Ele apenas se pergunta: Aonde foi todo mundo?
A pergunta bate na parede, e alí morre. Não há resposta, não há sinal de vida, não há calor.
Ele volta para a cama, se cobre, abraça o seu urso e cai em sono profundo, pensando: É melhor dormir, dormir o tempo que for, do que ficar sozinho.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Abaixo do lado esquerdo.

Havia uma garota.
Havia um garoto.
Também havia um trêm, uma viagem e uma preocupação.
A garota acenava na plataforma, com os olhos em lágrimas, sentindo-se confusa.
O garoto acenava da janela do trem, preocupado, mas feliz.

A garota se sentia como uma qualquer, enroscada em seus lençóis.
O garoto se sentia feliz, por estar se divertindo e por saber que alguém o esperava.
A garota se martirizava, pensando todo o tipo de besteira existente
Sutilmente, o garoto rezava, para que tudo estivesse bem com ela.

A garota conhecia o fundo do copo, cansada de esperar.
O garoto conhecia a cidade, feliz por variar.
A garota fazia sua rotina habitual, com o pensamento longe
O garoto saia da rotina, com o pensamento mais longe ainda.

Novamente, a garota se encontrava na plataforma, cabisbaixa, esperando.
Novamente, o garoto se debruçava sobre a janela, a procurando em meio a multidão.
Em um relance, uma fração de segundo, um olhar, quatro lágrimas, braços estendidos.
E um minuto, um abraço.
Em um segundo, ele dizia o que estava em sua garganta a dias, e em um segundo, ela ouvia o que esperava a dias.
- Eu senti a sua falta! - diziam em prantos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O garoto da estação.

Havia um garoto, sentado em uma estação. Ele olhava freneticamente o relógio.
-São 12:50, mais de 50 minutos de atraso! - disse pra sí mesmo, olhando o grande relógio vermelho na frente da bilheteria. Mas pensou consigo mesmo: Não custa esperar, ele esperou muito mais por mim, em dias mais frios e chuvosos, não custa esperar por ele, afinal, é por ele.
Colocou seus fones, enquanto uma melodia agradável ( We Walk - The Ting Tings, se ele se recorda bem) o acalmava, esboçando um leve sorriso em seu rosto pálido, enquanto esperava, ele pensava sobre os últimos dois meses decorridos.

"Dois meses, parece clichê, mas foi tanta coisa em tanto tempo! - pensava - Começou com um singelo acaso, Assuntos certos, gostos certos, pessoas em comum, comum até demais. Lugar certo, na hora certa, pretexto certo. Parecia cena de novela, mesmo. Uma semana depois, O imenso rombo que havia aqui - ele toca o peito através da camiseta verde - se tampou. Incrível o que algumas palavras de um vídeo podem fazer. Desde então, fizemos coisas que nunca imeginei fazer, crises? sim, todas relevantes. Eu cresci mentalmente e sentimentalmente, domei o meu ciúme indomável e aprendi a pensar em coletivo. E novamamente ao mar de clichês, me satisfaz, me faz rir, me mima, me escuta, me ajuda. Aonde esteve esse tempo todo? Eu gostaria de saber também, mas eu encontrei, não? - pensava, sorrindo sozinho sentado ao meio da estação - Eu conheço bem o suficiente para saber o que sente, o que pensa, o que quer de mim, isso me alegra orgias. Sintonia, isso existe. Eu quero continuar, por muito tempo, não pensando no 'se fosse, se achasse, se acontecesse.', Driblando hipóteses ruins, sacrificando orgulhos, e quanto a tentação? simples! ela se foi. a satisfação é tanta que não preciso de mais ninguém, posso devanear tranquilo sem preocupações, porque simplesmente foi o que eu sempre quis."

O garoto tinha um ar sereno, e se divertia em meio aos seus devaneios, para ser sincero, ele se sentia seguro, pois sabia que daquele ponto, havia eliminado todo o tipo de ameaça externa que pudesse colocar medo nele.
Então, ele olha a sua frente e simplesmente o vê, com uma inconfundível cara amassada e cabelo desorganizado. Abriu um largo sorriso, retirou os fones e o beijou. "Ele sabe como ser foda e ingênuo ao mesmo tempo" - concluiu. Saíram de mãos dadas da estação, deixando um rastro de felicidade sincera aonde passava.

Horas depois, ao mesmo ponto de onde havia partido, ele o abraça e o beija, se despedindo, novamente mergulhando em devaneios.

"O calor foi intenso, o dia foi esclarecedor, nosso ritmo, nossa velocidade, nosso passo sincronizado. Nunca pensei que pudesse lhe dar tanto prazer quanto hoje, ele sabe que é dele, então, ele vai cuidar. Demos mais um passo, e isso foi tão bom que eu nem acredito. Logo, outro, e espero anciosamente por esse, porque o que eu quero é faze-lo feliz, sim, eu sei que o mundo não gira ao redor dele, tenho meus assuntos pra cuidar e meu mundo ainda gira em torno de mim, porém, mais adiante, esse mundo será dele."

O garoto recolocou seus fones e entrou em um trem, concluindo que nos últimos dois meses, havia se tornado a pessoa mais feliz do mundo.