segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O chá das cinco e quarenta e cinco.

Espera.
Ele se via sempre sentado em uma cadeira. Espaldar reto. acabamento em madeira, estofado em veludo carmim. Apertava as bordas do estofado com as mãos brancas e frias feito gelo. Tremia. Ansiedade.

Agitava os pés de um lado a outro, em movimentos regulares. O coração batia em ritmo acelerado, o relógio emitia um característico tac a cada segundo. Simplesmente uma orquestra insuportável. Impossível.
Ele mais do que ninguém conhece seu íntimo. Conhece as vastas e escassas possibilidades "disso" acontecer em uma simples tarde de eleição. Uma simples tarde de domingo. O céu era cinzento e fazia um frio característico, o dia estava perfeito.

Ouvia, lia. Tudo com o mesmo pesar cinzento e monótono comum do dia-a-dia. Nada fugia do normal, ou escapava tentando criar a falsa ilusão de uma sensação de adrenalina. Monotonia, assim ele descrevia seu blazer e seus sapatos.
Ele sabe que poucas coisas o fazem sair dessa linha restrita. Não sabe ao certo o que ocorreu, o que lhe chamou a atenção. Se foi o doce inebriante das palavras, o suave de uma beleza perfeita ou o tom de uma gentileza rara e impecável. Encarava aquilo como uma perfeição absoluta e uma tentação incrível. Não são dias, são horas. Sabe que não é leviano, pois o afinco qual o qual pensa e sente não é comum. Não sabe mais o que dizer.

Só tem a certeza que irá de cabeça, pois pessoas e estados assim são tão comuns quanto quebrar primeiras impressões e descobrir um presente maravilhoso num dia de eleição em uma tarde cinzenta de um domingo frio de clima perfeito em plena primavera.