sexta-feira, 18 de junho de 2010

Trinta gotas de nostalgia.

O garoto abre a caixa.
Uma caixa branca, em madeira. Simples, mas o conteúdo dela é o que realmente importava a ele.
Dentro dela, ele visualiza as mais variadas tranqueiras. Pega uma por uma, reflete. guarda mais uma vez.
Uma bola roxa de uma piscina de bolinhas. Lembrava da primeira vez em que dormiu na toca da raposa. A vez em que dormiu na mesa de um restaurante, cercado pelos melhores. Um alargador de 18mm. A primeira vez em que visitou a Catina, ele coloca a jóia em seu dedo mindinho e volta a vasculhas as memórias.
Se depara com outra caixa. feita de papel, um pouco ralada nas bordas. Abre. Encontra um nariz de palhaço, uma aliança e um pedaço de papel.
Ele sente a chaga doer mais uma vez, fecha a caixa e a coloca de canto.
Três folhas e um dado. Dias muito bons com pessoas muito simples, que acrescentaram valores inestimáveis a vida dele. Uma fita de cetim rosa, ainda perfumada. A primeira vez em que a raínha do negro absoluto vestiu cores. Uma pedra, simbolizando suas crenças até agora. Uma gravata amarela, de seu melhor amigo loiro de quatro patas.
Uma a uma, ele coloca as coisas em seu devido lugar dentro da caixa. Se surpreende, a caixa, apesar de tamanho mediano, era grande, mesmo com tanta coisa em seu interior.
O garoto volta a seu gélido leito, deita-se e alí fica.
Talvez ele pensasse que devesse viver mais, e assim preencher a caixa. Talvez ele pensasse que é pouco, mas, por ser o que ele é, por ter sido o que ele foi, por ter feito o que fez, é o melhor.
Talvez ainda estivesse pensando na bola roxa, ou nas três folhas. Talvez.
O telefone toca, o garoto é despertado de seu transe. Um desejo sincero de melhoras, uma pessoa que é necessária a vida dele. Por mais que ele teime, ele não é só. O garoto, apenas deve aprender a se relacionar.
Ele adormece, uma lágrima contorna suavemente sua face e morre no azul do travesseiro. Ele não nota, mas ele sorri.

5 comentários:

Letícia disse...

Memórias... Aii Bru, eu tenho uma caixinha dessas também. E, por vezes, não quero nem vê-las.

Chorei lendo seu texto. Lindo.

Beijos, saudades!

Kmiii Kitsune disse...

Minha caixa é verde. Nela tem uma foto tua, minha e do Inu. Tem um coração de pelúcia que veio na minha mala super-hiper-ultra-barbie. Tem cartas de amigos que não falo mais. Tem cartas de amigos que não são mais amigos. Tem bilhetes de pessoas que são tão importantes que nem sabem. São lembranças que guardo nessa caixa e as tiro de vez em quando pra me dar algum motivo pra chorar.
Mas a cabeceira da minha cama tem mais lembranças importantes. Tem uma raposa de pelúcia que ganhei de um filhote com um brinco na orelha. Tem uma foto de uma família de irmãos que não tem mais uma integrante. Tem minhas princesas, todas empoeiradas. Tem meus cds, meu cheiro, um bilhete de amor no mural e todo o sentimento do mundo.

Jailton disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jailton disse...

Precisava de uma caixa dessas.
Lindo texto, Bru.
Bjos,

Anônimo disse...

Não há nada tão gratificante quanto as memórias, penso eu. São fruto de toda o caminho que percorremos, suas atribulações e surpresas. Quem as tem tão boas deve se orgulhar, buscar nunca esquecer. Belo texto. ;)

Beijo!