sábado, 11 de maio de 2013

Plataforma dois, vagão doze.

O Garoto postava-se em pé, em frente as portas do vagão, esperando o aviso sonoro para que saísse do mesmo.
Em seu mundo particular, pensava apenas em dragões, foices, cavalos e magia, em sua mais simples e bela forma. Seus fones impediam qualquer forma de contato com o mundo externo, como ele bem queria no momento. Foi quando o viu: Através das lentes sujas dos grandes óculos de armação preta, num único relance em que se movia rapidamente até as escadas, o desenhista.
O desenhista sentava num encardido bando de plástico, usava uma amassada, e em certos pontos desbotada, blusa de frio preta com gorro, que lhe caia bem e parecia confortável. Em suas mãos, um caderno aberto, um lápis e uma borracha.
Os olhares se cruzaram em um certo ponto entre a escada que subia, e o trem que se movia. Quentes olhos verdes com um toque de âmbar, que refletiam toda a solidão e compaixão do Desenhista encontraram os gélidos e baixos olhos do Garoto. A reação foi instantânea: um simples sorriso se formou nos lábios do garoto. Correspondido com outro sorriso.
O desenhista se levantou, e embarcou no trem seguinte. O Garoto esperou o embarque, certo de que um dia, o veria novamente, virou-se e ajeitou os fones, antes de seguir caminho a seu porto seguro, desejando que aquela centelha da paixão dos trilhos ardesse novamente.